quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A propósito de quem sou “Eu”...


Sou o observador silencioso desta experiência. 

Sou a consciência omnipresente em todas as minhas acções, palavras e emoções. Sou o que observa e regista, para nunca se perderem, as experiências que usufruou como pai, filho, marido, coach, amigo, windsurfer, cidadão, português ou qualquer outro papel que a vida me convide a desempenhar.

Sou o que permanece imutável em mim, o inalterado de toda a transformação vivida; desde a mais tenra memória da minha infância até à memória deste preciso momento. Sou aquilo que me permite sentir-me Eu depois de todas as mudanças drásticas que percepciono no meu corpo, nos meus pensamentos e nos meus estados de ânimo. Mesmo quando lanço aquela mirada que se interroga sobre de quem é esta cara, de onde vêem estas ideias e estas estranhas sensações, o que Sou tranquiliza-me, dizendo-me em pensamento, que ainda lá está, que sempre esteve e que sempre há-de estar, aconteça o que acontecer. Sei que estarei sempre comigo e que a solidão só acontece a quem se perdeu de si próprio.

Sou aquele que experiencia a vida para lá do tempo. Apesar de reconhecer alguns dos efeitos que associo à distinção “tempo” (tenho a cabeça repleta de cabelos brancos, estou mais sensível à agitação, dentro e fora de mim, e esqueço-me de coisas insignificantes), no que diz respeito ao observador silencioso por detrás desta experiência, estou como vim e como sempre estive, imaculado. A Alma é uma eterna criança, de potencial criador ilimitado, a brincar com os mistérios inocentes da vida.

Ajo e penso mas é através da reflexão sobre o que faço e penso que me separo do corpo e do pensamento. Não sou uma nem outra coisa. Aliás, serão este corpo e esta mente totalmente meus? Tanto quanto consigo perceber, através das conclusões e experiências de “outros”, tenho cerca de 100 biliões de células multiplicadas por um número inimaginável de átomos que entram e saem do meu corpo, num reboliço cósmico, sem que eu faça nada por isso, o mesmo se passando ao nível das minhas ideias que, no meu cérebro, garantem, são como luzes que se apagam e se acedem à velocidade da luz. Correm-me, na mente, pensamentos que nasceram noutras realidades espácio-temporais e movimentam-se, neste corpo, pó de outras estrelas.

Desconfio que isto não é obra minha mas, por outro lado, também o é; só pode ser, afinal, Sou tudo o que conheço, tudo o que há, desde este ponto de observação, sem escapatória possível, qual prisão perpétua de ilimitada liberdade.

Sou a eterna testemunha do que (me) ocorre, interna e externamente. O criador da única realidade a que acedo. Sem mim nada existe. Sou o Todo e o Nada.

Sou...